Unidos podemos superar os ambientes mais áridos
Alcione Albanesi
No vasto cenário do sertão nordestino, onde a seca e a fome são não apenas desafios sazonais mas uma dura realidade diária, enfrentada por milhões de brasileiros, muitas comunidades lutam sem acesso a água potável, recorrendo a fontes contaminadas apenas para sobreviver:
É nesse contexto desolador que o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) e celebrado em 17 de junho, surge para ressaltar a urgente necessidade de mobilização em iniciativas que enfrentem esses fenômenos devastadores, que assolam inúmeras pessoas no Brasil e ao redor do mundo.
No Brasil, cerca de 38 milhões de pessoas vivem em áreas onde a seca e a desertificação representam ameaças constantes. Em escala global, aproximadamente 55 milhões de indivíduos sofrem com a seca anualmente, conforme aponta a ONU.
Porém, a luta no sertão nordestino é ainda mais desafiadora, pois a escassez de água é uma batalha secular, enfrentada por gerações.
Hoje, o semiárido nordestino, considerada entre as regiões áridas uma das mais populosas do mundo, abriga 28 milhões de habitantes segundo o Instituto Nacional do Semiárido (Insa).
A escassez de recursos no sertão nordestino é resultado de diversos fatores interligados. A irregularidade das chuvas torna a disponibilidade hídrica extremamente desafiadora.
Além disso, a degradação do solo e os efeitos das mudanças climáticas têm contribuído significativamente para um cenário ainda mais árduo.
Em 2023, por exemplo, o Nordeste enfrentou a maior seca dos últimos 40 anos, em decorrência do fenômeno climático El Niño, conforme aponta o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao governo federal. Esse evento, que tem se estendido até o primeiro semestre de 2024, é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas na faixa equatorial do oceano Pacífico, o que altera drasticamente os padrões de chuva em diversas regiões do mundo, incluindo o Nordeste brasileiro.
A combinação desses fatores cria uma vulnerabilidade única em diversos povoados distribuídos pela região. Essa realidade afeta não apenas a disponibilidade de água mas também a segurança alimentar e o bem-estar de milhares de famílias.
Diante desse cenário desolador, é urgente que cada indivíduo e empresa se mobilize e volte seu olhar para o sertão do nosso país.
Ao investirmos nesses povoados, não apenas oferecemos recursos básicos como contribuímos para proporcionar uma mudança completa nas futuras gerações, com educação, saúde e oportunidades de emprego e renda, rompendo um ciclo de pobreza.
Iniciativas como a da ONG Amigos do Bem demonstram o enorme potencial de transformação. Em 2023, atendendo mensalmente mais de 150 mil pessoas em 300 povoados, distribuímos mais de 1,3 bilhão de litros de água. Com o apoio de milhares de amigos e cerca de 11 mil voluntários, já perfuramos 75 poços e construímos 123 cisternas. Além disso, todos os meses, 800 cisternas e caixas d’água são abastecidas com nossos caminhões-pipa.
Segundo um estudo do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), o Retorno Social sobre Investimento (Sroi) da ONG Amigos do Bem é de incríveis 6,45. Ou seja, cada R$ 1,00 doado se transforma em R$ 6,45 em benefícios concretos para a população do sertão. Esse alto índice, somado às ações práticas da organização, demonstra o enorme potencial de impacto positivo que iniciativas focadas no desenvolvimento sustentável da região podem ter não apenas na melhoria da qualidade de vida mas também no fortalecimento da economia regional.
Acredito firmemente que a miséria tem solução, mas isso só é possível com o apoio de muitos amigos. Cada ato de solidariedade representa um avanço rumo a um futuro mais digno.
O dia de combate à desertificação nos convida à reflexão sobre os perigos que assolam o sertão do nosso país e nos instiga a intensificar nossos esforços contra a extrema seca e pobreza que afligem a região. A indignação precisa ser acompanhada de ação.
Cada um de nós pode ser o agente de mudança que a região requer, doando, voluntariando-se ou apoiando iniciativas transformadoras.
Unidos podemos superar até os ambientes mais áridos e criar um horizonte de possibilidades para as futuras gerações.