Com atuação ‘360 graus’, a Amigos do Bem, presente no Nordeste, atua na construção de casas, em centros de saúde, escolas e plantações de caju. Por tudo isso, é referência nacional em desenvolvimento sustentável
“Quando a Amigos do Bem chegou, tinha 12 anos, cuidava dos meus irmãos para os meus pais poderem trabalhar na roça. Só tinha escola até a quarta série. Não tinha expectativa nenhuma de vida. Até que a ONG ajudou a criar empregos. Futuramente, ganhei bolsa de estudo e hoje ganho o meu próprio dinheiro”, relata Agna Ferreira Vitor, que nasceu no Sítio Cajueiro, no Ceará, e hoje, aos 29 anos, é pedagoga, a primeira da família a completar o ensino superior.
Para consumidores de supermercados nas principais capitais, a Amigos do Bem é apenas uma das muitas marcas de pacotes de castanhas de caju nas gôndolas. Em algumas localidades nos rincões do Nordeste, significa fonte de ensino, saúde, renda e moradia. Em todo o Brasil, é referência na área de desenvolvimento social sustentável.
Sonho virou realidade
A Amigos do Bem começou a ser idealizada em uma viagem feita pela empreendedora Alcione Albanesi ao sertão nordestino, em 1993. Após ver de perto a miséria existente em algumas regiões, ela reuniu colegas e parceiros para fazer um mapeamento das regiões mais necessitadas e das demandas mais urgentes. Desse levantamento surgiu o Projeto Casas, que já construiu 543 moradias nos municípios de Catimbau e Inajá, em Pernambuco, São José da Tapera, em Alagoas, e Mauriti, no Ceará. Para também dar acesso à água potável, foram instaladas cisternas e perfurados poços artesianos. Tempos depois foi aberta uma nova frente com a construção de centros de saúde.
— Essa primeira viagem mudou a minha forma de ver e sentir o mundo — relembra Alcione.
— Durante 10 anos, percorremos milhares de povoados para encontrar os que mais precisavam de ajuda e auxiliar com alimentos, roupas, atendimento médico e odontológico e levar esperança — afirma a fundadora e presidente da ONG.
Hoje, a instituição realiza 187 mil atendimentos por ano em quatro centros de saúde e atende 10 mil crianças e jovens em quatro escolas. Uma delas, a que fica em Inajá (PE), superou a média nacional do IDEB em 2019, ficando em 1º lugar no município.
O que gira a roda
Para que toda essa estrutura se tornasse sustentável, a ONG vislumbrou um modelo de negócios baseado na economia local. Investiu em plantações e beneficiamento de caju, oficinas de costura, fábricas de doces, de mel e de pimenta, além de oficinas de artesanato. Ao todo, são 15 unidades produtivas que geram 1,5 mil postos de trabalho e beneficiam cerca de 13 mil pessoas com renda mensal em 300 povoados.
O faturamento é considerável, porém insuficiente para bancar os custos. Por isso, são essenciais as doações de pessoas físicas, ajudas de empresas, eventos e campanhas institucionais. É verdade que a ONG conta com 10,3 mil voluntários, mas também tem 409 profissionais da educação e 300 agentes de saúde na folha de pagamento. E não recebe apoio governamental.
Fonte: O Globo